Habitar o outro: habitar um outro, com Luís Matheus Brito 

8 de janeiro de 2025 | Tilápia-azul

Gratuita: 12 vagas — 12 de fevereiro de 2025, 14h—18h, na Casa Cosmos (R. João Bebê Água, n. 109, bairro Centro, São Cristóvão) 


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A oficina “Habitar o outro: habitar um outro” propõe a escrita de cartas a partir de uma dinâmica duplamente ficcional, para que se assuma não só um receptor imaginário, mas também um emissor igualmente imaginário — isto é, um lugar de enunciação que conduza o eu e o você para um trânsito, uma passagem para a expressão do desejo, envolvendo cada um dos participantes em máscaras epistolares (como lembra Adília Lopes, um tipo de linguagem-máscara que, por si só, pode mascarar¹: em nosso caso, por meio de correspondências). No título, a atividade já pressupõe uma bifurcação — ou renúncia: a repetição do outro serve para indicar o sujeito para o qual nos endereçamos, ao mesmo tempo que a versão de nós mesmos que incorporamos, como gesto de duplicação graças ao qual um emissor se torna objeto de si. A renúncia tem a ver com falsificar-se, perder a “personalidade” e, assim, criar formas de habitação para um diálogo que embaralha as circunstâncias, as hierarquias e as posições dos sujeitos. Em “Habitar o outro: habitar um outro”, partimos da leitura de cartas e ensaios para a construção de um repertório em comum e, logo depois, iniciamos o exercício de escrita. Na última parte da oficina, fazemos a leitura de todos os textos, acabados ou inacabados, a fim de amplificar o espaço de escuta e o espaço de fala do encontro. 


Roteiro


1. Introdução:

a) Leitura de dedicatória extraída de exemplar de Poética, de Ana Cristina Cesar;

b) O lugar de enunciação, os pronomes como formas vazias, o trânsito entre o eu e o você;

c) Leitura de trechos de “Endereçamento”, ensaio do Indicionário do Contemporâneo.


2. “Ora muda, ora prolixa”: o caso Ana Cristina Cesar — a missivista:

a) A performance de autoria, o artifício editorial, a passagem dos dias;

b) Leitura de “my dear” e de carta do dia “5 de abril de 1976”. 


3. Renúncia da pose: os exemplos de Roland Barthes:

a) Os modos de codificação e significação do desejo;

b) A ausência de respostas, o domínio que é vinculado à Mãe;

c) Leitura de “A carta de amor”.


4. Produção de missivas:

a) Escritas das cartas com emissor e receptor ficcionais;

b) Leitura das cartas.


(Esta atividade é viabilizada com recursos da PNAB/PNCV (2024), através de edital de premiação de Pontos de Cultura fomentado pela FUMCTUR/São Cristovão, com o qual a Bibok Cultural/Galeria Bibok foi contemplada, e conta com o apoio da Tilápia-azul.)


Referências


CESAR, Ana Cristina Cesar. Correspondência Incompleta. Rio de Janeiro: Acroplano, 1999.

CESAR, Ana Cristina. “my dear”. In: CESAR, Ana Cristina. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

PEDROSA, Celia [et al.] (organizadores). Indicionário do contemporâneo. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2018.

BARTHES, Roland. “A carta de amor”. In: BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. Tradução de Hortência dos Santos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981. 


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[¹] Adília Lopes, "A poetisa". In: Aqui estão as minhas contas: antologia poética de Adília Lopes. Rio de Janeiro: Bazar do Tempo, 2019, p. 103.


(Imagem: detalhes da obra “Farbstudien, 10 Blätter”, do austríaco Karl Wiener. )